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quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Estrangeirismo


Mundo antidepressivo

                   non nostálgico
                                    
imundo         mudo       sem afago

                                  fadado

                                                a matar gente
chamando de doente

                                    o doer do ente

Mundo de gênios suicidas

               de poderosos genocidas
                                                 e suas torcidas

  de não livres vindas e idas
 
                               de horror à vida.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Histeria

Eu conheço essa gastrite que se confunde com falta de fome. O vazio grita e, conformadas, bebemos mais café. Pra nela se perder. Pra senti-la melhor. No corpo. A digestão do nada. Digestão de si mesmo. Toda palavra não dita - por falta de vontade ou oportunidade - derretida no ácido interno. Cadê aquele refrigerante? Talvez ele limpe a ferrugem de dentro também. No extremo do vazio apresenta-se o excesso. A gula que acaba por causar anestesia. O vazio e a compulsão de mãos dadas. Cadê aquela cerveja? Pra deixar as definições de limite atualizadas. E nem há mais vômitos. Tudo guardado. Cheio. Vazio. E agora um desmaio, que terá seu fim na manhã seguinte. Afogado noutro copo cafeinado enquanto os órgãos tremem e a pressão abaixa.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Bora sangrar?


Talvez seja uma coisa normal chegar em alguma fase ou situação da vida onde a gente se sinta um pouco hipócrita. Eu sempre critiquei (seja nos meus pensamentos ou em pronunciações) a falta de gratidão das pessoas ou, pra ser mais específica, a tendência em deixar de lado as coisas simples e que acontecem naturalmente em prol das situações desafiantes e causadoras da popular “ansiedade boa”. Essas situações desafiantes seriam as paixões impossíveis, platônicas, a insistência em querer pessoas que evidentemente não corresponderiam porque a ansiedade gerada nesse tipo de situação causa a ilusão de que a gente está sentindo. Mas o que de fato acontece sempre me pareceu ser o extremo oposto. Uma fuga em massa do amor. Um amor que envolve quebra de ideais de perfeição e completude, e que levaria as pessoas a encararem suas partes mais escondidas e que não as dão orgulho. Porque é isso que vem à tona quando se tem intimidade. A escolha do impossível sempre deixa tudo na superficialidade e no que a gente imagina ali, frente à máscara do outro. 

Vou, num ato de extrema modéstia (sqn), citar a mim mesma, porque a desordem dos poemas por vezes é a única que encontra, na sua falta de palavras, mais significados para as coisas...
"Grite palavras de desapego

Critique o tédio das novelas

Então, entedie-se em minha simplicidade

Me conte sobre o quanto sou amável
E não saiba me amar
Enxergue em mim uma tolice afável
Por não jogar
Por fazer das palavras sim e não elas mesmas
E me defina a pessoa mais esma
Sinta saudades de um desafio
Que embace sua visão
Que cubra tudo com um vento frio
Que te poupe de usar tanto o coração"

Existe um curta que ficou razoavelmente famoso na internet nos últimos anos chamado He took his skin off for me. Eu falo sobre ele o tempo todo a ponto de imaginar todos meus amigos não aguentando mais ouvir a respeito, mas por algum motivo sempre negligenciei escrever sobre. Se assistido sem muita atenção, o curta parece se tratar de um relacionamento onde uma pessoa abandona a sua identidade e muda pelo outro. Mas se analisarmos com cuidado poderemos perceber uma metáfora mais complexa. Uma pessoa que tira sua pele se descobre, fica desprotegida, sem a capa. O próprio curta metaforiza isso, já que ele ficou mais sensível ao frio. Isso não é se tornar uma pessoa diferente, é deixar de lado tudo que te protege e se deixar ser sensível e vulnerável. Ele mostrou de fato quem ele é cruamente tirando a pele. E, naturalmente, houveram consequências. Ele passa a escorrer sangue o tempo todo, sujar a casa, sujar as roupas, suas relações sociais não foram mais as mesmas. E ela, ao mesmo tempo em que ama esse eu cru e real dele, tem dificuldades em lidar. E ela mantém seus medos próprios, se recusa a tirar a pele também. Até porque, olhando pra ele ela vê os prejuízos pessoais e sociais que isso pode trazer. 

Se pararmos pra pensar a maioria das pessoas não quer realmente nos conhecer, elas querem uma pessoa aparentemente forte, mascarada, sem falhas, pessoas funcionais! Num relacionamento as pessoas têm medo de se mostrar de verdade pois, como ele, ficariam desprotegidas, com suas feridas abertas, sangrando o tempo todo. Afetáveis. Sempre que alguém é acessível está automaticamente em risco. Pode se machucar, pode ser criticado, pode ser obrigado a encarar as próprias angústias e medos. E, aparentemente, poucos estão prontos pra isso.

Mas porque eu comecei o texto falando de hipocrisia? Por conta daquele antagonismo entre o simples e o desafiador, onde o simples costuma ser desprezado e taxado de sem graça apenas por tornar tudo possível e passível de alguma profundidade. Eu me imaginava completamente coerente com essa filosofia da simplicidade até ouvir de uma amiga, enfaticamente e mais de uma vez, a frase “Brenda, você não aceita a felicidade”. Então eu percebi que inconscientemente eu seguia sim a filosofia do desafio, estando sempre com pessoas com as quais eu tinha que fazer um esforço tremendo pra que tudo desse certo. Sim, eu estava tirando a pele, mas sempre escolhendo alguém que provavelmente não tiraria junto comigo. 

Dos não atos

Não vou recitar esquimó
Ou compartilhar minhas filosofias
Sobre a interação entre mapas
Gritar presencialmente refrões de musicas
dizendo frases como "I fall"
Ser meio ridícula e ruborizar
Tentando racionalizar conexões intuitivas
Fazer um monólogo
Sobre aquelas duas horas do meu dia
Onde eu me distraí de tudo
Acordar com a disposição de três mulheres
Pra passar um café mascavado

Não vou mostrar meu álbum de fragmentos
Minha atenção aos detalhes
O potencial protetor do meu foco
Mostrar memória sobre as primeiras frases ditas
E sobre tudo considerado importante
Explicar a diferença entre pele e carne
Tirar da obscenidade os momentos de conforto
Fazer ver-se o poder do ombro nu
Chorar desavergonhadamente de alegria
Assustar com as disritimias repentinas do meu peito
Pedir desculpas por ser piegas

Não vou escutar todas as músicas
Ou ver todos os filmes
E séries, e matérias e poemas em inglês
Aplicando seus trechos únicos em minha vida
Deixando-os me modificar
Roubar gestos e expressões
E me divertir ao ver a esponja que sou
Ser um tudo em possibilidade e prontidão
Exemplificar a importância das concessões
E pequenos non egoísmos

Noutro rasgo, outro não.

domingo, 16 de outubro de 2016

Despuxada

Assunto despuxado
Eu me curvo e grito uma saudade
Escuto um elogio
Me assusto com uma reclamação
Já que das demoras 
A minha é de fato maior
Mas não se cala
Como se desistisse e perseverasse 

Dançam os silêncios e os prazos
Os entusiamos repentinos
E o barulho surdo do vácuo ricocheteando
Ora o peito se enche de ar
Ora nem lembra como se respira
Em meio a esquecimentos propositais
E pegadas de sono

O que é isso?

Uma disposição já morta
Ou uma que se nega a morrer?
As trilhas sonoras mudas
Firmes em se manterem presentes

O que é isso?

Onde eu me localizo no tempo?
No oco da cavidade arterial
o quão ressoa o meu nome?
Poderia ele ter se feito esquimó?
Ou talvez a calma da pronuncia
O fez sonífero de cavalo

Se tenho bons sonhos 
Acordo com gastrite
Se os impeço de voar
Pareço esmaecer junto
Nem a impossibilidade
Permite agarrar-se
Roubando de mim 
Até as palavras duras

A essa ambiguidade engessada
Apenas anuncio
Que meu nome
Ressoante ou não
Já originou-se sendo espada
Pronto pra enfrentar o eco

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Efeito Gregório

Essa é sobre aquele vídeo
Vou fazer uma análise bem virginiana dele 
(acho que vem a calhar, não é mesmo?)

Eis que aparece em tela um dos seres humanos mais racionais do mundo. Pra ela, tudo é baseado em racionalidade, até o amor. Ela tem uma história cheia de detalhes pra contar sobre como o amor ajudou na evolução da espécie humana, fazendo as pessoas permanecerem juntas e reproduzindo. Toda vez que surgem dúvidas sobre algum assunto elas são seguidas por muita pesquisa. Parece rotineiro e desproposital, mas aquilo importa muito pra ela. Talvez nem ela saiba. Mas importa sim.

Não sei exatamente quando isso começou (eu não tava lá pra ver), mas em um certo momento de sua vida as coisas abstratas e incertas tiveram que ser deixadas pra trás. Não só as abstratas, mas aquelas consideradas "fúteis" também. É difícil falar disso, pois creio que o meu conceito de futilidade seja diferente do dela. Mas, basicamente, tudo aquilo que não era comprovadamente útil foi deixado de lado. A astrologia foi trocada pela astronomia e a espiritualidade pela curiosidade a respeito das partes desconhecidas do universo. Inclusive eu até me pergunto como isso está hoje em dia, com esse boom da astrologia... Acho que eu nunca saberei. 

Voltando ao vídeo. Além de racional, ela também tem uma postura bem séria. Eu lembro da primeira vez que a vi com um shortinho despojado desses de ficar em casa e também as calcinhas e meias estampadas. Foi uma experiência engraçada. Como se de repente outra pessoa estivesse ali. E, assim, fui apresentada à sua dualidade. Eu ainda não encontrei as palavras certas pra definir essa mistura entre a adulta séria racional e a adolescente de pijama que gosta de esconder a cabeça no vão do seu pescoço. Acho que, naquela época, a única que eu encontrava era amor.

Nesse vídeo o meio de céu em aquário dela grita alto. Não só pela obviedade de ele envolver tecnologia, mas sim pelo quanto mesmo dentro de possibilidades limitadas e quase todos os alunos produzindo trabalhos e estudos parecidos, ela se esforçava em fazer algo minimamente diferente. Algo que não fosse medíocre. A dedicação dela era de impressionar. Passando mais tempo do que a maioria cuidando dos experimentos. Testando mais vezes. Qualquer coisa que tornasse o que ela tava fazendo um pouquinho melhor. Não era nada que ela elogiaria se visse alguém fazendo, mas também não ia achar que tava uma bosta. Acho que ela se consolava pensando que pelo menos era uma inutilidade bem feita.

Da mesma forma, foi esse trabalho do vídeo em questão. Ela não o considerava nada especial, mas seguia essa lógica do fazer bem feito. Camisa amarela. Uma camiseta roxa que era minha. Além desse dia aí tiveram testes com todas as cores, eu lembro bem de revirar meu guarda roupa atrás das roupas que fariam parte do desfile. Achei divertido ajudar. 

Esse vídeo claramente foi gravado em dois dias diferentes, acho que um dia por cor. No primeiro dia era notável um mal humor, aquele sorrisinho forçado e irritado que só tava ali porque o programa pedia mesmo. No segundo teve sorrisão daqueles que dava vontade de morder. Esse último tipo de sorriso faz parte da metade que vestida de pijama. com ele também estão as risadas mais altas, que são uma espécie de gritinho mas que saem no tom da voz, acompanhado da mão dela segurando em alguma parte do seu corpo pra ajudar a conter a própria trela.

Mas não se engane, esse lado dela ficava bem escondido. Ela carregava seriedade no andar, no mastigar, no jeito de acenar pro ônibus. Sabe aquela pessoa que você vê na rua e escolhe pra pedir informação porque, por algum motivo, a pessoa parece saber? Essa era ela. Sempre atenta a tudo e pronta pra dar orientações. Não que ela gostasse disso (ela odiava), mas que parecia estar sempre pronta, parecia. E era engraçado como o jeito diferente de ela ver o mundo a tornava única e diferente mas também a escondia. Igualmente engraçado era o quanto eu queria vê-lo permanecer ao mesmo tempo em que queria ver o que tava escondido.

Os anseios, as dúvidas, os medos, os sentimentos... tudo cuidadosamente pensado e reservado num cantinho dela. O que aparecia eram as análises de uma aparente estrangeira no mundo, que não entendia porque as pessoas falavam obviedades tais como "to dentro do ônibus" quando um "to no ônibus" seria suficiente. Não entendia o ócio. Não entendia o devaneio. Não entendia as pessoas serem tão parecidas umas com as outras na rua ao mesmo tempo em que não gostava de gente que viaja na maionese demais. Era sempre essa briga dentro dela. Esse quero ser diferente mas não quero olhar pra dentro (e que ninguém olhe também).

Quando entediada ela gostava de reforçar as próprias teorias ou aprender coisas novas. Essa dualidade é sensacional. Ela passou muitas horas de sua vida (provavelmente ainda passa) vendo vídeos e coisas escritas sobre ateísmo. Coisas falando do lado negativo das religiões, pessoas tentando provar a não existência divina, muita comédia zoadeira de religião e, claro, a associação de tudo isso com uma curiosidade pelos mistérios da vida (para os quais o plano é encontrar alguma explicação racional ou simplesmente dizer: não há propósito!). Muitas dessas críticas eram muito boas, mas era como se ela repetisse pra se calar. Pra não ousar criar alguma teoria maluca na cabeça dela, já que isso causaria muitas dúvidas e era, portanto, estritamente proibido. As coisas novas, apesar de seguir uma lógica oposta, tinham o mesmo propósito; ocupar a cabeça com conhecimentos e verdades.

Existiu todo um buraco negro de diferenças entre nós. Eu acho que estou no extremo oposto disso em várias ocasiões, sendo uma pessoa extremamente confusa. São duas vibes muito diferentes que explicam, inclusive, nossos diferentes níveis de dependência naquela época. Ela aparentava ser muito independente, ter sempre certeza de tudo que dizia, estar sempre no controle (com o controle na mão inclusive). Eu, ao contrário, me coloquei numa posição de extrema carência, dúvida e passividade. Cheguei no extremo pra que, enfim, eu pudesse romper com isso. Na marra, é claro.

Eu sinto saudade daquele pijama. Não uma saudade de querer de volta, mas aquela tristeza de quem vê uma coisa bonita sendo cada vez mais esquecida em alguém. Mas eu sei que, por minha causa, não morre tão cedo. E essa certeza aparece quando eu reproduzo aquele vídeo e tudo que consigo enxergar é aquele sorrisão. E também quando estou me divertindo com coisas aleatórias e percebo que roubei aquela risada pra mim.

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Cabeça cheia

Falta de espaço na cabeça
Falta de espaço pra espaçamento 1,5
Falta de espaço pras reuniões
Falta de espaço pra notas não musicais
Falta de espaço pra multidões
Falta de espaço pra socializações superficiais
Falta de espaço pra documentos
Falta de espaço pra expectativas pré-natais
Falta de espaço pra hora marcada
Falta de espaço pra fazer por dinheiro
Falta de espaço pra obrigação arbitrária
Falta de espaço pra convenção social
Falta de espaço pra retirada de pêlos
Falta de espaço pra definição corporal
Falta de espaço pra atuação política dos grupos pra eles mesmos
Falta de espaço pra os carros atravessando o sinal
Falta de espaço pra leitura ortodoxa de teorias
Falta de espaço pra fila do banco
Falta de espaço pra carreira de sucesso


Me deixe em silêncio, pra que eu possa falar mais

Há dois lados marcantes do meu estar no mundo
De um lado a fluidez não estancada
O ideal vaidoso do sentir a tudo
O apaixonamento compulsoriamente profundo
Do outro a borda epidérmica
A covarde rendição à angústia da metade
As travas da retenção
Nenhum dos dois me parece saudável
O primeiro se alia a um suposto propósito
Desgastante
O segundo nomeia-se instinto sobrevivente
Desgastante
Confesso amor pelo principiante amador
Mas por vezes ele parece nado de pré afogado
Fadado não encontrar a si semelhantes
Ao contornante reservo menos afetuosidade
Sinto que pesa-me como tonelada nas costas
Mas sua precaução é melhor que a tolice
A fluidez não é totalmente possivel
Tendo-se corpo
Tendo-se atuações exigidas no mundo
Que vão além do pulsar da aorta
Há assuntos pendentes fora d'água
Burocráticos e imbecis
Mas necessários pra ser chamado de gente
Humano quer ser de razão
Até deixa pistas na famigerada matemática
Colocando razão e divisão como sinônimos
Tenta fechar a fenda
Esquecendo-se dela
E se a gente cutuca a fenda
Perde o direito de ser gente
E assim permaneço no impossível
Cada vez mais estrangeira
Principalmente dos que amo


sábado, 30 de julho de 2016

Treat her better

Eu to com uma memória tão saudável. Continuo lembrando de tudo, como sempre, mas o grande diferencial é o peso das lembranças. 2015 foi um digno ano pessoal 9 e se empenhou em fazer de si mesmo o fechamento de um ciclo. E as coisas se acomodaram confortavelmente sob esse título de passado num nível que pensar nelas é como lembrar de algum filme que eu tenha visto. E é tudo pessoal e ao mesmo tempo impessoal. É uma parte importante de mim, mas se diferencia muito do que eu quero ser e viver no meu agora. É saudável porque as lições são incontáveis e eu consigo pensar até nos meus grotescos erros com carinho. As palavras que um dia foram pesadas de se ouvir continuam ressoando, mas como um ventinho que mal se sente e tampouco se vê. Conseguir olhar pra todo aquele caos com um sorrisinho na boca e se sentindo bem é incrível. Sem raivinha de criança. Sabendo que era o melhor que eu podia fazer naquela breve fase. Seguirei distante (permanentemente) e enviando energias positivas. Agora vou ir cuidar do meu ano 1...


domingo, 3 de julho de 2016

Vem.

Vem cá
Conversar nas sutilezas das entrelinhas
Me dar palavras e despalavras
Pra eu editar de vez um documento guardado
Em ti lutado, entitulado
Poema que não sai
Vem cá
Pra sentir que não está aqui
Nem em lugar algum do mundo
Pra desaparecer completamente
Na tua própria transcendência
Vem cá
Que nem rima mais me vem
Fica no escuro comigo
Pra gente se ver melhor
Despidas de palavras
Vem cá
Que já começei a ouvir Johnny Hooker
Fumar cigarros demais
E já habito nas sutilezas do teu amor
Relutantemente incontestável
Vem cá
Sentir no corpo a leveza da musica
Descobrir-se sendo descoberta
Ser livre em sua vulnerabilidade
Brindá-la, despreocupada
Vem cá
Que eu continuarei sendo essa fúria
Atrás da tua cabeça
Que eu vou continuar prometendo heroísmos
E despertando erotismos
Vem cá
Que já somos dependentes da nossa química
Que nossas almas já dançam de nós independentes
Que já deu nós na garganta
E eu quero chorar de alegria o dia todo
Vem cá
vem
Que eu não sou tão poeta assim
Mas perto de ti talvez até seja.

terça-feira, 19 de abril de 2016

Seja bem vinda

Acomode-se num canto qualquer
Pegue-se surpresa com seu conforto
De repente não queira escorrer
E olhe pra si de um modo meio torto
Com penosos questionamentos
Tampouco assumidos
Propositalmente desatentos
Filhos não paridos
Atravesse minhas pupilas
E sinta-se tonta
Monte inutilmente uma planilha
E não sinta-se pronta
Admire palavras cheias de ego
Finja não ver o que está por trás delas
Grite palavras de desapego
Critique o tédio das novelas
Então, entedie-se em minha simplicidade
Me conte sobre o quanto sou amável
E não saiba me amar
Enxergue em mim uma tolice afável
Por não jogar
Por fazer das palavras sim e não elas mesmas
E me defina a pessoa mais esma
Sinta saudades de um desafio
Que embace sua visão
Que cubra tudo com um vento frio
Que te poupe de usar tanto o coração
De vez em quando pense sobre conexão
Sempre com cuidados
Pra não lhe dedicar excessiva concentração
E permanecer jogando os dados
No fundo de sua alma
Saiba que tirar a pele é ser feliz
Mas desvie o olhar da própria palma
Deixe sempre a retirada por um triz
Torcendo pra que de alguma forma
Tudo mude perante sua inércia
Sem precisar reforma
Não olha pra tão baixo
É muito alto pra você se jogar
Esconde o que tá embaixo
Não deixa sangrar
Me deixa passar (?)

terça-feira, 12 de abril de 2016

Trouxa

          Sempre que eu ouço essa palavra acontecem dentro de mim (às vezes por fora também) algumas risadinhas. Lembro de Harry Potter e acho graça do fato de que faz mesmo algum sentido. Os trouxas são pessoas ordinárias, alheias ao mundo da magia, não sabem encantar. Não são bem dotados quando o assunto é inventar formas e mais formas de manipular o mundo (e os outros). Só sabem ser encantados, hipnotizados por um outro ser perigoso e portador de habilidades que o trouxa desconhece: o bruxo.
         O bruxo pouco sabe sobre o que é ficar encantado e quando percebe que o está arranja logo uma forma de se livrar da moléstia (muitas vezes com um contra-feitiço). Então, concluímos que ele pouco entende sobre estar à mercê, ele não se identifica com o sentimento do trouxa e percebe o seu universo como uma grande tolice.
         Portanto, conheceria o bruxo suas próprias fraquezas? Saberia ele lidar com elas? Teria ele conhecimento da sua mais recôndita ferida? E finalmente... saberia ele ser um trouxa? Isto é, ele sobreviveria no mundo trouxa? Talvez justamente por não saber tenham nascido com esse "dom" da bruxaria.

segunda-feira, 14 de março de 2016

Convença-se

Convença-se da minha loucura
Olhe pra mim e veja minha mãe
Convença-se de que não resta fissura
Convença-se da insignificância do meu olhar
Da insignificância do encaixe
Negue até a morte esse espionar
Convença-se do desapego aos versos
Convença-se de que ansiedade é sucesso
Convença-se das imperfeições
Das não alcançadas atribuições
Convença-se
Vença.

Memória sensorial #1

A textura lisa da cicatriz
O buraquinho abaixo do lábio
A constelação nos braços
O bronzeado de camiseta
As dobrinhas no sorriso
A franja mal cortada
Os pés de moça
Os cravos no queixo
Os pêlos nas costas
As orelhas sem fundo
As dobras na testa
Os seios de gota
A cavidade rasa na coxa esquerda
Os dedos magros
A pinta na popança

Um ode aos quase amores

Estava faltando uma pessoa na festa
E minha vênus se dispôs a apresentar-lhe uns versos
Pra mostrar que é mais que o que resta
Ou talvez, confesso...
Grita-me a ânsia de ter as palavras lidas
De fato lidas
Ainda que sejas criança de gangorra
Visualiza qualquer borra
De café ou caneta
Com esse olhar de luneta
É engraçado como é fácil soltar esses riscos
Nada arriscados
Como se fossem de um outro tempo
Impessoal no momento
Não sei se é época de futuro distante
Ou de repetição aparente e constante
-pausa-

sábado, 12 de março de 2016

Trono (mais metáforas de navegação)

De volta à margem, ao relento
Pra reformar o barco
Talvez aposentá-lo
Em um qualquer aposento

Por cansaço de ser prenda
Deixo nascer a lenda
Dessas da boca de população local
Desconhecida versão original

Deixar obscenas as pérolas
Em suas respectivas ostras
E proclamar azar o seu
Por apagar minhas velas


quinta-feira, 3 de março de 2016

Pacotin o/

Vou aproveitar que vi esse Linux aqui e te dizer:
Obrigada por me tornar tão diferente de mim mesma
A ponto de eu descobrir quem sou

     

terça-feira, 1 de março de 2016

Estar são

Minh'alma se habituou a outonos de alguma estação findada, cujos restos caem secos. Restos desformes das belezas uma vez desabrochadas. Ainda assim continuo a adentrar atrevidamente os invernos. Me agrada o contraste explícito entre os ventos gélidos e minha pele quente em cujo o sangue permanece fluindo e lhe emanando calor. E é nele que meus sentimentos se fazem presentes. Nas vísceras, na carne úmida. O ar entra gelado e sai aquecido da respiração, fazendo uma pequena neblina à frente da minha face quase todo o tempo. Se a neblina oblitera minha visão, simultaneamente eu me divirto com os formatos em que ela se permite desenhar. Ainda cedo, no inverno, posso ver o vislumbre da primavera. Olho para os galhos secos e cobertos de neve e vejo novas e perfumadas flores. É divertido brincar com esses vultos, ainda mais por não serem aparições de algo que morreu mas sim de algo prestes a dar seu gole de vida. Olho para os galhos num misto de ansiedade e calma, por ver-me presa num inverno que já anuncia o seu fim. Na primavera eu jogo feito amadora, me embebedando com as essências florais, me deixando levar pelo sabor das frutas doces e pelo veneno das plantas ardilosas (estou aprendendo a reconhecê-las e manter delas certa distância). Pelo verão não me apeteço de bons sentimentos, o vejo como a pior das fases. Meu corpo sua, desconfortável, sente o calor lhe deixando gradativamente. As flores suam, desconfortáveis, a mata passa por algumas queimadas espontâneas. Tem mais de fim que os outonos, pois estes chegam gentis. Folha por folha caindo, desbotando até desaparecer, desaprendendo a sentir, para que os galhos se cubram de neve novamente e, nesse frio, eu me sinta aquecida.