Páginas

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Quisera Eu

Quisera eu que falta de atenção
Fosse sinônimo de desatenção
E que meu coração, na ânsia de controlar sua batida,
Não te ignorasse com tanta precaução

Quisera eu poder distrair-me
No intervalo de minha pulsão
E no estímulo visual de tua presença,
Pedir licença e dizer-te não

Quisera eu não querer-te para mim
E na ardência de olhares seus
Não contrariar atos meus
Atendendo-te cá dentro com um sim

Quisera eu ser ser desprovido
De transbordante emoção
De cantar sem te lembrar a tua canção
De falar sem te lembrar o teu jargão

Quisera eu odiar-te pois então
Mas no rumar de tal direção,
O estúpido peito acha-se sem coração
E repreende invariavelmente seu dono: Não!

Gelo

Queima quando perto, gela quando longe
Refrata a luz solar numa miragem de bronze
A cada calor que sufoca surgem outros onze

Flutua nas bebidas, absorvendo-as
Caso se olhe bem ao fundo, se vêm derretidas amêndoas
Brilhando como o óleo de sêmolas

Se cai ao chão é quase impossível a recuperação
Livre, paira no ar, em ebulição
Só restando a lembrança do período de estadia na mão.

Volúpia

Incerteza da certeza, charmoso flerte como par
Carência de estabilidade, obvio fato
Subordinado a um coração insensato
Batendo num peito de um bastar negativo.

Infindáveis padrões cognoscíveis e ignorados
Conhecida esperança em desconhecida reciprocidade
Ainda viva, cega, já com certa idade
Firmada num motivo qualquer altamente nocivo.

Imaginário de um futuro obtuso e insólito
Manipulação inexperiente recém-inaugurada
Dispersão na própria prática torturada
Situação espelho, pior inimigo.

Insolente fraqueza súbita e vertigem, plena rendição
Plano de ação se dando em campo minado
Agir programado, fitado e mastigado
Haverá sentido num sentir menos ativo?