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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

O equilíbrio da balança invisível

Minha mente tem uma típica esquizofrenia
De pensar-me vazia
E conectada ao mundo
Concordo com o que os existencialistas dizem
E com o que ignoram
Como se complementaridade pudesse coexistir com falta
Sem anulá-la, mas dando essa sensação
Tenho essa mania de sintetizar teóricos
Parecem-me eles tão geniais e tão rígidos em seus conceitos
Ou talvez eu só excessivamente questione
Por me dar conta que de certeza mesmo
Nem a morte.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Balanços e atonitices do lado de cá

Passei por um protocolo
E saiu-se de mim a palavra nós
As letras a sós
Ditas assim, numa única sílaba
E eu, nessa aba
Arquivada em formato .avi
Zipada dentro do vértice
Um tanto cúmplice
E cheio de bobice
De nossas falanges falantes
Sentindo
Sem tino...
Pedindo leve
Pra que me leve
E me inspire numa expiração
Sem expirar a validade
Do asfalto dessa viela
Com luminosidade singela
Que da cor à relação
Cor-
(rel)ação
E por mais que seja estreita
Euforias espreita
E me enche de vontade
De lhe dar minha inteira metade
Pra lidar com a realidade
E com essa realeza
Cheia de proza e proeza
E que espero sair ilesa
Dessas poetizações sem destreza
Que se repetem em pura gentileza

sábado, 23 de novembro de 2013

O Pseudônimo

Tenho um pseudônimo e ele
Mora dentro das cardíacas paredes
Tem sua origem no monstro de olhos verdes
Carcomido e morto de fome
Insistente em escrever em meu nome
Um audacioso cheio de lustre
Metido a colérico, mas no fundo cadavérico
E já me era conhecida sua presença ilustre
Tão insistente, alfinetando quer que custe
A pesar apesar de já vislumbrar seu fim
Sabendo que cabe a tristeza em mim
E se inchando ao me ver esmorecer
Poderá o que quase foi
atrapalhar o que ainda pode ser?
Devo ser mesmo louca
por deixar esse pseudônimo crescer
e por minhas palavras transparecer
A razão é que a razão
dele pelo meu eu idealista comum
ainda é bem menor que um
(Ufa!)

Ré-volver rima?

Devolve minha rima
menina
sempre escrevi organizada
sabendo como termina
E agora parece piada
espalhar minha poesia interminada
pequena e admirada
com esses contornos por cima

Poço?

Meu amar é inumano.
Sempre foi poço fundo até pra mim.
E está mais fundo que o comum.
Jogo pedra para ouvir o fim,
não ouço nada.
Talvez tenha perfurado a terra por inteiro
e se findado na boca
de outro poço
e a pedra agora flutue no espaço,
sem rumo.

(pausa para o fôlego)

E posso enxergar que esses poços
são passagens inanimadas.
E esses sentimentos um universo sem fim,
no qual a terra paira medíocre.
Tanto quanto
o meu pé-zar no seu chão




domingo, 17 de novembro de 2013

Ressabiada

Em chegada inimetaforizável, chegou
Rapidamente e de mansinho, cambiante
Dia inteiro em instante
Lábia de mulher, meiguice de menina
Concebia e proibia, como quem ensina
E preciso mesmo de bula
pra talvez ser menos sonâmbula
E menos deslumbrada
com tíbias encarnadas
e pintadas
E mesmo inundada de fobia
No fundo eu sabia
Que acabaria a mercê
Dizendo que as outras coisas boas
não são tão boas
quanto você
E acompanho com os olhos
os seus olhos
Ambos cúmplices em ser tão seus
que se esquecem ser meus
Ah, e aquele covarde batente e avermelhado,
no fundo eu sabia,
que já nem mais me cabia

Dissonância Cognitiva

Dos pesadelos diurnos
penso que são os piores
banhados à consciência
preenchendo o vazio
entre minhas partes amáveis
e as amadas

Espera.
Logo esqueço
e volto às minha alegrias
anestesiadas

domingo, 10 de novembro de 2013

Um pedaço do infinito

Queixava-me com a mão no queixo
Ocultando a face em face da falta de eixo
Dessa vida quixotesca em fato
Que espreita no quarto canto do quarto
Mesmo os preâmbulos cordiformes
Loucura minha ora vai ora vem
Colocada pelo real sob desdém
Caminho pouco a pouco
E então volto com um sopro
Como uma estrela cadente enrabichada de poeira
Olhando pra cima
Sem rima
Será sina?
Em face da languida face de estrela segunda
De um firmamento mais alto oriunda
Intergalática
No Aglomerado de Virgem
Na epopeia da abóbada do seu rosto
Me desamparo e sinto o gosto
Daquela triste vertigem
Essa pulsão vívida, cor de prata
Que não deixa morrer mas me mata
É um tipo diferente de escopofilia
Platônico-aristotélica filosofia
Vê dentro e fora, perto e longe
É mais urgente não sabe ser monge
Pobres das minhas mãos rasas
Lidando com seus sutis e inúmeros buracos
Ineficazes no juntar dos cacos
Dessas inefáveis lembranças com asas
O doce lapso do entrelaçar
Em contraste com o contato com o ar
Impossibilitada de pular linhas
Primeiro deságuo a alma
Depois quererei respirar ou ter calma
Lareira quente num dia nevoso
É o papel para o qual meu coração goteja nervoso
Na tinta quente e melada da caneta
Temendo as partes que dele partem
Já com endereço e não se repartem
Acima do seu limiar de aflição
Escapa de mim, despreparada
Não me permite fazer parada
Já não sou mais sua morada

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Senfusão

Tenho perdido linguagem
Sentido e pensado em algoritmos
Consumida como óleo dentro do fogo
Pelos paradoxos dos atos viventes
Os pares que se invadem, possessivos
Alegrias e tristezas
Presenças e ausências
Cacofonia e falta de rima
Silêncio das vozes que gritam
E o grito dos silêncios
O mesmo vento que leva e traz
Ao final, pitada de paranoia
E o medo (talvez esperança) de um dia enlouquecer


domingo, 29 de setembro de 2013

Afrodite Sorriu

Afrodite sorriu
ao ver sua vaidade virar minha escopofilia
sua deliberada obtusidade causar hidrofilia
Sem nada fragilizar sua revelia oceânica,
nada pueril

Ah, não fosse inata falta de direção
menos provável seria a obliquidade do seu laço
em invadir esse todo espaço, de cansaço
Causando nesses olhos taciturnos e cafeinados
uma não-poética obliteração

Assim como a injustiça desse olhar cigano,
quando por seguidas vezes repetimos a dor
soa-se cacofonicamente como amor
E a extrapolada e confusa linguagem
transborda-me de engano

A alma engravidou
Em um tom mais grave
Sem que se grave a gravidade da situação
fez-se o entrave
E esse algo que não sei do que se trata é o que sou.

sábado, 31 de agosto de 2013

404 is not found

Será que é uma coisa rara essa sensação? É como se eu tivesse me tornado um botão vermelho, irresistível à dedada, à evasividade, uma tentação tão forte quanto a fome, que exige pressionar-se. Mas como todo botão muito usado, temo logo parar de funcionar. Uma saída seria talvez me travestir de uma cor mais discreta, ou afundar nessa máquina e sumir, de modo a nem ter o toque da luz. Da mesma forma que o botão não compreende a funcionalidade do organismo autônomo à que pertence, que depende de sua expurgação, talvez eu me perca nessa existência por vezes tão maquinária. E por mais que se diga sobre a importância do botão, sobre uma justificação dos meios pelos fins, talvez não valha tanto a pena assim fazer uma máquina funcionar. Deveria ser o bastante? O que ganha de prêmio a existência superficial e desanimada daquele botão? O botão é só um botão, é importante citar. Ele não é capaz de ensinar a máquina a funcionar, de melhorar seu rendimento, ele só está ali, eclodindo dela e sendo explorado por aqueles que sabem domá-la. Botões vivem para ser pontes, para serem pisados por quem vem dos dois lados. E se brincar ainda se sentem orgulhosos, identificam-se os integradores, a liga. Mas e eles, caramba? Se é importante integrar é porque é importante estar integrado. Ironicamente, então, são mais faltantes e mais completos que os outros. Mais completos porque realizam função ocultada aos olhos da maioria e mais faltantes porque, seguindo a sina de todo humilde proletariado, não desfrutam do fruto de seu próprio trabalho.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Verde Melancolia

Lagrimando conformação inconformada
dessa condição carmal de desajuste
Tomo de assento certa calçada
em cuja frente uma planta se ilude

Chega-me revolta de alta alçada
ao perceber: quer que custe
e persistindo sob uma condição despedaçada
não há de ocorrer que a muda mude

A enraizada não deixa o idealismo de tornar verde
o pálido asfalto que a cerca
E, por fim, torno-a sem solo e jogada à parede
Engolindo a identificação que me acarreta.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Registro Irresponsável

Autoritário é o poder da ideia
ela está no palco, o querer na platéia
Ama-se no amar
Ama-se no não amar
Só não é amar o abster-se acerca
se cogita já ama, fugaz que se perca
Mesmo a abstenção não é de se confiar
sempre em batalha com a água, em busca de ar

E se perguntares porque sublimo
confesso que te reprimo
Em lamentações de manhãs indispostas
lembrando covinhas das costas
E extensiono em poema
ideia que não se assume tema,
mas teima.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Ponto e vírgula

Fez-se em minh'alma um depósito de pegadas
Um maltrapilho batente e avermelhado
Frequentemente caminhando hipnotizado
Sem tratamento benevolente de atos ou palavras

Permeado a tropeços e frutas verdes
Conservou tolice inegável e persistente
Se disse administrador competente
E manteve-se reenvernizando suas paredes

Contudo, súbita lucidez o fez despedaçado
E não houve reforma que resolvesse
Ou preenchimento que bem lhe parecesse
Tudo aparentou devaneio disfarçado

Em presentes dias veem-se alarmes no portão
E o reluzente incomodo sobre a estante
Gentilmente fita-se de olhos baixos o horizonte
Jamais fora outrora tão vácuo e são

À espera de não esperar

O pressuposto realizado é bege
Belo que seja, é mero cumprir-se
Nada preenche, já que é o que é
De difícil modo a felicidade o elege

O pressuposto falho é escuro
Carnívoro que do ente apropria-se
Lhe faz dolorido por não ser o que é
Joga na face o não domínio futuro

O pressuposto ausente é branco
genuinamente permissor do surpreender-se
Nele, complacente, o que nunca foi é
Pena ter acesso íngreme como entanto

domingo, 23 de junho de 2013

A semente oca

Meu lirismo olha-me de lado como quem mente
na pequena lixeira do canto do quarto
convidando-me a acariciar o papel por seus meios
Planta em meu universo a possibilidade de uma semente
apesar do silencio uníssono que me une ao grafite que manuseio

Temo que a semente não seja suficientemente fértil
e talvez permaneça imóvel sob a terra
tão infinitamente vazia que ao gritar faça eco em si mesma
Apenas paixões, ainda que fugazes, permitem beleza mera
e como transferir o que não se tem para a resma?

Negligenciaria frases sem rima em cada inseguro verso
tradução da incompletude de quem não sabe de seus anseios
Metas impossíveis são belas, as inexistentes são frias e úmidas
e medíocre é o preencher das linhas de vazio emerso
Pena que não se venda vontade de amar na vitrine de terceiros


terça-feira, 21 de maio de 2013

Gagueira interna

Há dias em que a mente fadiga-se
Qualquer associação livre de cogitações
Desagua ferida em oceano etílico
Num ardor inegociavelmente irremediável
Negando até ser capaz de roucas lamentações

Racionalizações insistentemente emersas
Andando descalças em círculos rígidos
São como o estar da água na palma das mãos
Não bastam-se no solucionar externalista
E opacam-se ante sofreres vívidos

Pequeno Grande

Muito condenam-se auto abdicações
Portadas de inversa prepotência
Em cuja ausência se revela
Um prezar pela integridade alheia

Sorte não ser ato suficiente
Ante a beleza da consciência de caráter
Que supera o de imortais egos
E lhes guarda macia, a outra face

Parafraseando

Feliz é o poeta
Que além de ser fingidor
Extrai beleza da própria dor

O que deveras sente passa
O poema permanece
E as pegadas não esquece

Como uma cicatriz extra corpórea
Que previne repetições distraídas
Com sua infalível memória

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Voo Rotineiro

Magnetismo sugando as limalhas cá do peito
Energia entre corpos é força estranha
O ar que puxas da atmosfera
Convida-me a conhecer suas entranhas

É convite não apelativo
Apenas tenta-me descompromissado
Lacuna na qual o tempo freia-se
Não há futuro, presente ou passado

Um segundo de maré alcalina
E sinto minha face esmaecer
Odeio ser pega de surpresa
Assim, pensando em você

Brilhante alma encara-me
Uso o belo sorriso que habitava meu bolso
Em auge de sinceridade ele funciona
Inconsolável, faço meu pouso

Coração de leão

Diplomata por natureza
um dia encontrou a personificação
de uma clareza opinativa
A rigidez, apesar de não constituir a si
causava-lhe um tipo incomum de encantamento

Dois lados constituintes da moeda
Completamente diferentes
Se balanceando num símbolo valoroso
A coroada e a cara de um coração

A realeza tilintava seu adorno
Ignorando a presença do outro lado
Sustentada na desculpa de se restringir ao seu
Incansável, o carudo arranhava as grades
Elas se estatuavam ainda imóveis, exceto na sua cabeça


sábado, 2 de fevereiro de 2013

Quisera Eu

Quisera eu que falta de atenção
Fosse sinônimo de desatenção
E que meu coração, na ânsia de controlar sua batida,
Não te ignorasse com tanta precaução

Quisera eu poder distrair-me
No intervalo de minha pulsão
E no estímulo visual de tua presença,
Pedir licença e dizer-te não

Quisera eu não querer-te para mim
E na ardência de olhares seus
Não contrariar atos meus
Atendendo-te cá dentro com um sim

Quisera eu ser ser desprovido
De transbordante emoção
De cantar sem te lembrar a tua canção
De falar sem te lembrar o teu jargão

Quisera eu odiar-te pois então
Mas no rumar de tal direção,
O estúpido peito acha-se sem coração
E repreende invariavelmente seu dono: Não!

Gelo

Queima quando perto, gela quando longe
Refrata a luz solar numa miragem de bronze
A cada calor que sufoca surgem outros onze

Flutua nas bebidas, absorvendo-as
Caso se olhe bem ao fundo, se vêm derretidas amêndoas
Brilhando como o óleo de sêmolas

Se cai ao chão é quase impossível a recuperação
Livre, paira no ar, em ebulição
Só restando a lembrança do período de estadia na mão.

Volúpia

Incerteza da certeza, charmoso flerte como par
Carência de estabilidade, obvio fato
Subordinado a um coração insensato
Batendo num peito de um bastar negativo.

Infindáveis padrões cognoscíveis e ignorados
Conhecida esperança em desconhecida reciprocidade
Ainda viva, cega, já com certa idade
Firmada num motivo qualquer altamente nocivo.

Imaginário de um futuro obtuso e insólito
Manipulação inexperiente recém-inaugurada
Dispersão na própria prática torturada
Situação espelho, pior inimigo.

Insolente fraqueza súbita e vertigem, plena rendição
Plano de ação se dando em campo minado
Agir programado, fitado e mastigado
Haverá sentido num sentir menos ativo?