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terça-feira, 22 de agosto de 2017

Borboleta no aquário

Não, não foi proposital
Eu fui surpreendida
com uma figura vivendo tal qual
fase prematura da minha vida
Procurando uma saída

Procurando respirar mais doce.
alguma conexão que fosse
Com a alma clamando por ser tocada
e a se sentir convocada

E eu me inebriei
como uma abelha pousada na flor
Meus receios contrariei
por sentir o peito cheio de calor

Ela deixou de caminhar conformada
numa vida semi acordada
Se viu, vista
Futuro como possibilidade de conquista

Não te preocupes...
Meu abraço será terno
pois é toque em porcelana
Sem mais invernos,
mel que escorre e derrama.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Rosa bebê

Umas dúzias de carências e desejos de alma me andavam esquecidos. A psicanálise me ensinou que a vida é frustração constante e meu trabalho psicológico seguia sendo o de tentar aceitá-la e suportá-la. Então eu não gastava muito tempo pensando sobre o que eu queria, mas sim tentando lidar com a ideia de não ter. Pensando nas mais diversas estratégias de nado na angústia.

Tudo que era feliz ou satisfatório demais eu fitava com olhos de pena, de quem vê o otimismo e seus adjacentes como tolice, como um ato compulsivo e inconsciente de pessoas fingindo que não lhes existia a falta.

É, eu não estava bem... Estava em plena desesperança, mergulhada na crueza da vida. Eu era contraditória também. Pensando a existência como manifestação da angústia ao mesmo tempo em que crescia meu interesse sobre evolução espiritual e filosofias de vida focadas no auto aperfeiçoamento. Com a convicção de que eu jamais poderia ser verdadeiramente conhecida mas me esforçando em me fragmentar em textos e até nos pequenos enfeites que espalhei pelo meu quarto (coisas visíveis). De alguma forma eu queria ter esperança e propósito.

Quando, recentemente, eu vi a felicidade genuína diante dos meus olhos, meu corpo estremeceu. Os meus anseios não admitidos me saltaram aos olhos. Os vi realizados em diversos vislumbres e fui vendo como aquilo assustadoramente se encaixava comigo e dava um calor imenso ao meu coração. E pela primeira vez deixei minha alma contar as coisas que ela mais deseja e hoje tenho condições de dizer a frase "eu quero" com uma inédita convicção.

Eu me tornei de certa forma tão enrijecida que é preciso esforço para viver dentro desses vislumbres. Percebi o quanto a angústia é segura (e covarde), o quanto ela reside no conforto de não querer ter nada só para não correr o risco de perder. Mas eu resolvi me dar esse presente. Que a vida não vai me trazer uma felicidade plena e perfeita eu tô cansada de saber. Mas os momentos de alegria e sonhos serão bem vindos e buscados.

Amatomia

olho luneta multifocal
mãos clima tropical
garganta instrumento musical
pé mais desconfiado que Tomé
coração galope distante do pangaré
estômago máquina movida a café
braço gancho de barco a vela
pernas brilho ondulado de tela
quadril diamante lapidado
costas caminho camursado
língua pra ensinar à maciez uma lição
mamilo sonhada amamentação
orelhas depósito de cravo
testa de aparentar humor bravo
queixo curvinha da qual se queixa
sob ele, encaixe pra minha cabeça
ombros pra dar de ombros na birra
na nuca fios se dispondo feito uma lira
pulso varanda da alma
coxas pra me findar toda calma
pescoço proporção áurea
seios delicada área
boca lânguido arrebol
cílio pedidos ao pôr do sol
cabelo cetim de cobrir
umbigo de soprar pra rir
dedos pra não me deixar ir.

sábado, 20 de maio de 2017

Balão

Anda comigo de ganchinho
como a ponta dos seus sonhos e os meus
Se encaixa num aninho
no vértice entre meu braço e peito,
como fossem teus
Deixa em mim o cheiro do teu cheiro
e a batida meio oca
que seu coração da em desespero
Me deixa te contornar
com a cantoria que seu sorriso me tira
Encher de sonhar
o futuro das maravilhas
Cuja personagem principal
anseia entrar em cena
Inicialmente bem pequena
E pra mais tarde ler esse poema

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Lua crescente

O mirar dessas pupilas é como estar de frente
à água doce e corrente
Sólido que encadeia,
líquido que escorre livre até a foz
Não é vício adoecido
de sereia que exibe voz
É dança de reflexos,
o simples brincando de ser complexo
A cor refratada dos raios solares
sob o foco das lentes oculares
É me sentir vestida de flores
receita pra ausentar as dores
sumiço do tic tac
suportar o calor da tarde
Estar dentro e fora da novela
pintando enquanto admiro a tela
Sensação de ser chama
ao passo em que se deita na úmida grama
Pra além de ansiedade fantasiosa
convida a abandonar os mistérios
e me delongar em proza
É num dia calmo e disperso
se surpreender com um peito acelerado
Depois de várias etapas do sentir
se achar fazendo um doutourado