Páginas

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Rosa bebê

Umas dúzias de carências e desejos de alma me andavam esquecidos. A psicanálise me ensinou que a vida é frustração constante e meu trabalho psicológico seguia sendo o de tentar aceitá-la e suportá-la. Então eu não gastava muito tempo pensando sobre o que eu queria, mas sim tentando lidar com a ideia de não ter. Pensando nas mais diversas estratégias de nado na angústia.

Tudo que era feliz ou satisfatório demais eu fitava com olhos de pena, de quem vê o otimismo e seus adjacentes como tolice, como um ato compulsivo e inconsciente de pessoas fingindo que não lhes existia a falta.

É, eu não estava bem... Estava em plena desesperança, mergulhada na crueza da vida. Eu era contraditória também. Pensando a existência como manifestação da angústia ao mesmo tempo em que crescia meu interesse sobre evolução espiritual e filosofias de vida focadas no auto aperfeiçoamento. Com a convicção de que eu jamais poderia ser verdadeiramente conhecida mas me esforçando em me fragmentar em textos e até nos pequenos enfeites que espalhei pelo meu quarto (coisas visíveis). De alguma forma eu queria ter esperança e propósito.

Quando, recentemente, eu vi a felicidade genuína diante dos meus olhos, meu corpo estremeceu. Os meus anseios não admitidos me saltaram aos olhos. Os vi realizados em diversos vislumbres e fui vendo como aquilo assustadoramente se encaixava comigo e dava um calor imenso ao meu coração. E pela primeira vez deixei minha alma contar as coisas que ela mais deseja e hoje tenho condições de dizer a frase "eu quero" com uma inédita convicção.

Eu me tornei de certa forma tão enrijecida que é preciso esforço para viver dentro desses vislumbres. Percebi o quanto a angústia é segura (e covarde), o quanto ela reside no conforto de não querer ter nada só para não correr o risco de perder. Mas eu resolvi me dar esse presente. Que a vida não vai me trazer uma felicidade plena e perfeita eu tô cansada de saber. Mas os momentos de alegria e sonhos serão bem vindos e buscados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário