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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Areias de ampulheta


            Meu primeiro poema foi sobre o tempo e a vulnerabilidade humana. Como antes, não me sinto capaz de me delongar com rimas sobre o tema. Ele não se deixar alcançar, como se fosse aquela relação passado-presente, onde a partir do momento que tento falar do presente ele já virou passado. É mais volúvel que água, pois esta pelo menos se acha capaz de se empoçar nas curvas da mão. O tempo é como o vento, é capaz de mover coisas extremamente rígidas mas é inobservável em essência, incapturável e cruel em sua hegemonia. Ele sempre aparenta estar do outro lado do cabo de guerra, nos puxando pra longe dos nossos desejos. É culpado de dois terríveis males: a nostalgia e a ansiedade, pelas vezes que decide passar devagar ou depressa demais. 
            No seu momento de maior angústia, pode ter certeza que tudo estará em câmera lenta. Nesse momento, seus olhos crescerão. Você vai ver o mundo cristalino, em toda a sua fragilidade. Vai perceber que toda a violência e toda movimentação inquietante do nosso século é simplesmente uma fuga em massa de pessoas querendo deixar para trás suas sombras e vazios. Ninguém gosta do escuro. Até os filmes de terror estão cada vez mais iluminados e substituindo o suspense pela violência gratuita. Em resumo, o ser humano acha que se ele conseguir correr o bastante vai parar de doer. 
        Mas o tempo pode ser vencido? É uma grande contradição ver pessoas combatendo o tempo para não morrer sem perceber que vencer o tempo é morrer. O que é pior? Se mergulhar em angústia e viver em câmera lenta, percebendo que cada passo rápido e desejante é um erro ou viver na fantasia de que se pode vencer o tempo, sempre correndo e nunca olhando pra si mesmo? Há quem diga que vez ou outra o tempo se rende, vez ou outra nos deixa ter felicidade, mas logo a toma de volta. Vale a pena viver a mercê dele em troca desses momentos? Mesmo sabendo que cada um deles será uma fuga da morte que há em nós?
            Acho engraçado pessoas dizendo que o tempo cura. O que cura é parar de lutar contra ele. As pessoas aprendem com suas próprias pegadas e o tempo coincidentemente ta pisando ali junto conosco. Mas a grande questão é: ele não é responsável por nada. O ideal mesmo era ter ele como amigo, afinal ele vai estar ali contigo custe o que custar. Mas é complicado gostar de alguém que te joga na cara o tempo todo que você só vive mesmo é pra morrer. As pessoas querem viver pra sempre. São inimigas número um do fim sem se lembrar que todo começo pressupõe um fim e vice versa.
           O tempo é, basicamente, um amigo sábio que te machuca com sua sinceridade. Ele nos ajuda a ver de forma pequena e panorâmica tudo aquilo que é enorme e focal enquanto está sendo vivido. E tudo que eu quero agora é andar devagar e não considerar nada grande demais, ou feliz demais, ou possível demais. Eu quero a sinceridade e a poeticidade da angústia.



sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Lar, amargo lar

Azedei. Tinha parado com o costume de ser uma escriba ambulante anotando meus insights pelo menos duas vezes por dia. A escrita tinha perdido o encanto, porque eu já não precisava tanto dela. Eu tinha trocado o sublimar pelo investir libido. E por mais que não fosse um investimento lucrativo, a sublimação nunca foi suficiente também. Agora voltei me fragmentando no twitter e os caracteres me oferecidos parecem frequentemente insuficientes. E meu impulso é de agora aglutiná-los aqui. Meu blog olhou pra mim e disse: bem vinda de volta, não me esqueça da próxima vez.