No seu momento de maior angústia, pode ter certeza que tudo estará em câmera lenta. Nesse momento, seus olhos crescerão. Você vai ver o mundo cristalino, em toda a sua fragilidade. Vai perceber que toda a violência e toda movimentação inquietante do nosso século é simplesmente uma fuga em massa de pessoas querendo deixar para trás suas sombras e vazios. Ninguém gosta do escuro. Até os filmes de terror estão cada vez mais iluminados e substituindo o suspense pela violência gratuita. Em resumo, o ser humano acha que se ele conseguir correr o bastante vai parar de doer.
Mas o tempo pode ser vencido? É uma grande contradição ver pessoas combatendo o tempo para não morrer sem perceber que vencer o tempo é morrer. O que é pior? Se mergulhar em angústia e viver em câmera lenta, percebendo que cada passo rápido e desejante é um erro ou viver na fantasia de que se pode vencer o tempo, sempre correndo e nunca olhando pra si mesmo? Há quem diga que vez ou outra o tempo se rende, vez ou outra nos deixa ter felicidade, mas logo a toma de volta. Vale a pena viver a mercê dele em troca desses momentos? Mesmo sabendo que cada um deles será uma fuga da morte que há em nós?
Acho engraçado pessoas dizendo que o tempo cura. O que cura é parar de lutar contra ele. As pessoas aprendem com suas próprias pegadas e o tempo coincidentemente ta pisando ali junto conosco. Mas a grande questão é: ele não é responsável por nada. O ideal mesmo era ter ele como amigo, afinal ele vai estar ali contigo custe o que custar. Mas é complicado gostar de alguém que te joga na cara o tempo todo que você só vive mesmo é pra morrer. As pessoas querem viver pra sempre. São inimigas número um do fim sem se lembrar que todo começo pressupõe um fim e vice versa.
O tempo é, basicamente, um amigo sábio que te machuca com sua sinceridade. Ele nos ajuda a ver de forma pequena e panorâmica tudo aquilo que é enorme e focal enquanto está sendo vivido. E tudo que eu quero agora é andar devagar e não considerar nada grande demais, ou feliz demais, ou possível demais. Eu quero a sinceridade e a poeticidade da angústia.
O tempo é, basicamente, um amigo sábio que te machuca com sua sinceridade. Ele nos ajuda a ver de forma pequena e panorâmica tudo aquilo que é enorme e focal enquanto está sendo vivido. E tudo que eu quero agora é andar devagar e não considerar nada grande demais, ou feliz demais, ou possível demais. Eu quero a sinceridade e a poeticidade da angústia.