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sábado, 31 de agosto de 2013

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Será que é uma coisa rara essa sensação? É como se eu tivesse me tornado um botão vermelho, irresistível à dedada, à evasividade, uma tentação tão forte quanto a fome, que exige pressionar-se. Mas como todo botão muito usado, temo logo parar de funcionar. Uma saída seria talvez me travestir de uma cor mais discreta, ou afundar nessa máquina e sumir, de modo a nem ter o toque da luz. Da mesma forma que o botão não compreende a funcionalidade do organismo autônomo à que pertence, que depende de sua expurgação, talvez eu me perca nessa existência por vezes tão maquinária. E por mais que se diga sobre a importância do botão, sobre uma justificação dos meios pelos fins, talvez não valha tanto a pena assim fazer uma máquina funcionar. Deveria ser o bastante? O que ganha de prêmio a existência superficial e desanimada daquele botão? O botão é só um botão, é importante citar. Ele não é capaz de ensinar a máquina a funcionar, de melhorar seu rendimento, ele só está ali, eclodindo dela e sendo explorado por aqueles que sabem domá-la. Botões vivem para ser pontes, para serem pisados por quem vem dos dois lados. E se brincar ainda se sentem orgulhosos, identificam-se os integradores, a liga. Mas e eles, caramba? Se é importante integrar é porque é importante estar integrado. Ironicamente, então, são mais faltantes e mais completos que os outros. Mais completos porque realizam função ocultada aos olhos da maioria e mais faltantes porque, seguindo a sina de todo humilde proletariado, não desfrutam do fruto de seu próprio trabalho.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Verde Melancolia

Lagrimando conformação inconformada
dessa condição carmal de desajuste
Tomo de assento certa calçada
em cuja frente uma planta se ilude

Chega-me revolta de alta alçada
ao perceber: quer que custe
e persistindo sob uma condição despedaçada
não há de ocorrer que a muda mude

A enraizada não deixa o idealismo de tornar verde
o pálido asfalto que a cerca
E, por fim, torno-a sem solo e jogada à parede
Engolindo a identificação que me acarreta.