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sábado, 23 de novembro de 2013

O Pseudônimo

Tenho um pseudônimo e ele
Mora dentro das cardíacas paredes
Tem sua origem no monstro de olhos verdes
Carcomido e morto de fome
Insistente em escrever em meu nome
Um audacioso cheio de lustre
Metido a colérico, mas no fundo cadavérico
E já me era conhecida sua presença ilustre
Tão insistente, alfinetando quer que custe
A pesar apesar de já vislumbrar seu fim
Sabendo que cabe a tristeza em mim
E se inchando ao me ver esmorecer
Poderá o que quase foi
atrapalhar o que ainda pode ser?
Devo ser mesmo louca
por deixar esse pseudônimo crescer
e por minhas palavras transparecer
A razão é que a razão
dele pelo meu eu idealista comum
ainda é bem menor que um
(Ufa!)

Ré-volver rima?

Devolve minha rima
menina
sempre escrevi organizada
sabendo como termina
E agora parece piada
espalhar minha poesia interminada
pequena e admirada
com esses contornos por cima

Poço?

Meu amar é inumano.
Sempre foi poço fundo até pra mim.
E está mais fundo que o comum.
Jogo pedra para ouvir o fim,
não ouço nada.
Talvez tenha perfurado a terra por inteiro
e se findado na boca
de outro poço
e a pedra agora flutue no espaço,
sem rumo.

(pausa para o fôlego)

E posso enxergar que esses poços
são passagens inanimadas.
E esses sentimentos um universo sem fim,
no qual a terra paira medíocre.
Tanto quanto
o meu pé-zar no seu chão




domingo, 17 de novembro de 2013

Ressabiada

Em chegada inimetaforizável, chegou
Rapidamente e de mansinho, cambiante
Dia inteiro em instante
Lábia de mulher, meiguice de menina
Concebia e proibia, como quem ensina
E preciso mesmo de bula
pra talvez ser menos sonâmbula
E menos deslumbrada
com tíbias encarnadas
e pintadas
E mesmo inundada de fobia
No fundo eu sabia
Que acabaria a mercê
Dizendo que as outras coisas boas
não são tão boas
quanto você
E acompanho com os olhos
os seus olhos
Ambos cúmplices em ser tão seus
que se esquecem ser meus
Ah, e aquele covarde batente e avermelhado,
no fundo eu sabia,
que já nem mais me cabia

Dissonância Cognitiva

Dos pesadelos diurnos
penso que são os piores
banhados à consciência
preenchendo o vazio
entre minhas partes amáveis
e as amadas

Espera.
Logo esqueço
e volto às minha alegrias
anestesiadas

domingo, 10 de novembro de 2013

Um pedaço do infinito

Queixava-me com a mão no queixo
Ocultando a face em face da falta de eixo
Dessa vida quixotesca em fato
Que espreita no quarto canto do quarto
Mesmo os preâmbulos cordiformes
Loucura minha ora vai ora vem
Colocada pelo real sob desdém
Caminho pouco a pouco
E então volto com um sopro
Como uma estrela cadente enrabichada de poeira
Olhando pra cima
Sem rima
Será sina?
Em face da languida face de estrela segunda
De um firmamento mais alto oriunda
Intergalática
No Aglomerado de Virgem
Na epopeia da abóbada do seu rosto
Me desamparo e sinto o gosto
Daquela triste vertigem
Essa pulsão vívida, cor de prata
Que não deixa morrer mas me mata
É um tipo diferente de escopofilia
Platônico-aristotélica filosofia
Vê dentro e fora, perto e longe
É mais urgente não sabe ser monge
Pobres das minhas mãos rasas
Lidando com seus sutis e inúmeros buracos
Ineficazes no juntar dos cacos
Dessas inefáveis lembranças com asas
O doce lapso do entrelaçar
Em contraste com o contato com o ar
Impossibilitada de pular linhas
Primeiro deságuo a alma
Depois quererei respirar ou ter calma
Lareira quente num dia nevoso
É o papel para o qual meu coração goteja nervoso
Na tinta quente e melada da caneta
Temendo as partes que dele partem
Já com endereço e não se repartem
Acima do seu limiar de aflição
Escapa de mim, despreparada
Não me permite fazer parada
Já não sou mais sua morada