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terça-feira, 1 de março de 2016

Estar são

Minh'alma se habituou a outonos de alguma estação findada, cujos restos caem secos. Restos desformes das belezas uma vez desabrochadas. Ainda assim continuo a adentrar atrevidamente os invernos. Me agrada o contraste explícito entre os ventos gélidos e minha pele quente em cujo o sangue permanece fluindo e lhe emanando calor. E é nele que meus sentimentos se fazem presentes. Nas vísceras, na carne úmida. O ar entra gelado e sai aquecido da respiração, fazendo uma pequena neblina à frente da minha face quase todo o tempo. Se a neblina oblitera minha visão, simultaneamente eu me divirto com os formatos em que ela se permite desenhar. Ainda cedo, no inverno, posso ver o vislumbre da primavera. Olho para os galhos secos e cobertos de neve e vejo novas e perfumadas flores. É divertido brincar com esses vultos, ainda mais por não serem aparições de algo que morreu mas sim de algo prestes a dar seu gole de vida. Olho para os galhos num misto de ansiedade e calma, por ver-me presa num inverno que já anuncia o seu fim. Na primavera eu jogo feito amadora, me embebedando com as essências florais, me deixando levar pelo sabor das frutas doces e pelo veneno das plantas ardilosas (estou aprendendo a reconhecê-las e manter delas certa distância). Pelo verão não me apeteço de bons sentimentos, o vejo como a pior das fases. Meu corpo sua, desconfortável, sente o calor lhe deixando gradativamente. As flores suam, desconfortáveis, a mata passa por algumas queimadas espontâneas. Tem mais de fim que os outonos, pois estes chegam gentis. Folha por folha caindo, desbotando até desaparecer, desaprendendo a sentir, para que os galhos se cubram de neve novamente e, nesse frio, eu me sinta aquecida. 

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