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sábado, 28 de março de 2020

Voz

Escrevo porque não gosto da minha voz.

A escrita tem tom escolhido,
possibilidade de alternar suavemente 
entre a firmeza e a descontração 
entre a calma e a catarse

Só gosto gosto da minha voz em sua quebra,
em sua ocasional rouquidão 
na sua falha venusiana 
na sua firmeza quando é pronúncia de uma especialidade

Mas seu titubeio rotineiro dá-me nos nervos
seu soletrar das ideias em construção 
suas eternas pausas nas dúvidas 
seu abafado durante as palavras de entretenimento

A gargalhada e o espirro que me invadem
como fosse atingida por um tiro
Todo escoar da minha retração,
a energia retida coloca em um minuto
uma frase que só caberia em cinco
Fugindo quilômetros do estereótipo da lentidão,
retrato do sedentarismo de um corpo
que sempre trabalhou numa velocidade descompassada da mente

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